Há campo de colheita farta para a Administração nos Agro(negócios)
O Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul (CRA/RS) publicou na Revista Master, edição 151, um número com a temática: “Agronegócio: um bom campo para a Administração”. Veiculam nos meios de comunicação, em especial nas mídias secundária e terciária, uma série de reportagens que potencializam o setor agropecuário brasileiro. As reportagens acenam que o setor é o único que cresce no país em recessão. Porém, não é de hoje que os agro(negócios) potencializam o setor primário no Brasil. Desde a metade do século XX, o país concentra esforços no sentido de maximizar a cadeia produtiva, incrementando tecnologia, estimulando pesquisas para aumentar produtividade e produção, além de estimular a liberação crédito para os agricultores. Os resultados, sejam eles positivos ou não, questionáveis ou não, refletem o atual cenário do setor agropecuário no país.
Os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), apontam que o crescimento do PIB no segmento agropecuário no país esteve atrelado ao avanço e desempenho do setor primário no ramo agrícola, para o qual o resultado acumulado foi de 6,06% em maio de 2017. Os dados do Censo Agropecuário em 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 74,4% do pessoal ocupado estão vinculados a agricultura familiar, enquanto, 25,6% à agricultura patronal em termos de mão de obra ocupada na área.
O investimento do Estado, da pesquisa agropecuária, dos programas de extensão rural no país, o avanço dos complexos agroindustriais no campo, e uma série de incentivos a exportação dos complexos carnes, soja, sucroalcooleiro, fumo, produtos florestais, de demais commodities, giram e aquecem a economia primária no Brasil. O desafio dos agro(negócios), projetando um cenário futuro, na verdade, não estará mais focado em economia de escala (aumento de produção e produtividade) ou incrementos de tecnologia no campo, pois já estão em emergência no Brasil contemporâneo, mas na capacidade de gestão das unidades de produção dentro e fora da porteira.
O grande desafio dos agricultores, atualmente, não é mais se adaptar as mudanças nas formas de produção, mas possuir domínio técnico das máquinas e equipamentos totalmente automatizados e computadorizados presentes no meio rural, gerir e interpretar os resultados dos softwares complexos de determinação de áreas plantadas, e também o grande gargalo: calcular os custos de produção das propriedades. Este cenário, ainda, está atrelado em boa parte dos casos para a agricultura patronal, em que os recursos estão mais disponíveis pelo fato de concentrarem esforços na economia de escala. Por outro lado, há um empenho da indústria, compreendendo as oportunidades de mercado, em que estão adaptando as tecnologias para a pequena propriedade, com um custo mais acessível ou de outra forma apoiadas no crédito liberado ao agricultor familiar para o investimento em infraestrutura e maquinários agrícolas.
Em 2017, na Expointer, uma das mais importantes feiras dos agro(negócios) e de maquinários da América Latina, apresentou grandes inovações para o campo. No entanto, podem-se suscitar algumas questões, como: todos os agricultores terão acesso a essas inovações? Todos os agricultores querem essas inovações? Todos os agricultores têm condições financeiras e capacidade de resposta para adquirir essas inovações? Provavelmente não. Essa é a parte menos "pop" dos agro(negócios). Então, há oportunidades para profissionais com trabalho em associações, ONGs, e também nas cooperativas agropecuárias que envolvem aproximadamente 2.000 cooperativas, 1,2 milhões de sócios, 165.000 empregos diretos e exportam 6,1 bilhões de dólares, segundo dados da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). Os documentos internacionais apontam que o cooperativismo tem potencial de constituir-se como uma das estratégias de desenvolvimento, ou seja, uma das saídas para inserir os agricultores familiares de volta ao mercado.
No mundo, uma das principais preocupações são os debates em torno da alimentação em uma sociedade urbanizada. A segurança hídrica, energética e alimentar tem preocupado as principais entidades mundiais como é o caso da Organização das Nações Unidas (ONU). O brasileiro José Graziano da Silva, Diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), um dos latino-americanos mais influentes do mundo, sugere que um dos principais problemas é minimizar a fome no mundo, e contribuir para a segurança alimentar e para o desenvolvimento sustentável.
No Rio Grande do Sul, os dados apontam um cenário vindouro para os agro(negócios). Segundo dados da Fundação de Economia e Estatística do estado do Rio Grande do Sul (FEE DADOS), em 2015, o município de Uruguaiana produziu 751.684 toneladas de arroz, sendo considerado o maior produtor de arroz no estado do Rio Grande do Sul e lidera a produção de arroz em nível nacional. No mesmo ano, Tupanciretã produziu 475.928 toneladas de soja, o município de Vacaria produziu 7.200 toneladas de feijão e o município de Canguçu produziu 24.200 toneladas de tabaco, todos liderando a quantidade produzida em toneladas, sendo considerados os maiores produtores no estado do Rio Grande do Sul.
O cenário para o trabalho no setor agropecuário é positivo. Há um campo emergente para se pensar as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) no campo. Colheitadeiras com alto grau de precisão, tratores cada vez mais modernos, máquinas de colheita de café, tabaco e algodão com crescentes graus de tecnologia incorporados. Na tese de doutorado (REDIN, 2015) um dos resultados mais surpreendentes encontrados é que na agricultura familiar de Arroio do Tigre estamos, após os anos 2000, vivenciando um novo projeto de modernização da agricultura. Há questões que indicam progressos e também problemas sociais decorrente desse fenômeno no meio rural.
A revista científica, Extensão Rural, editada pelo Departamento de Educação Agrícola e Extensão Rural (DEAER) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), abriu uma seção específica para trabalhos sobre administração e economia rural, preocupada com os avanços nas pesquisas na área para auxiliar agentes de desenvolvimento e agricultores, em especial, sobre a gestão e os cálculos de viabilidade econômica nas unidades agrícolas.
Há também oportunidades para consultorias em gestão de pessoas no meio rural com o avanço das questões trabalhistas e um campo de trabalho com a sucessão das propriedades. Há um problema social que está na contramão que é o esvaziamento do campo. O trabalho de conclusão de curso de Administração defendido na Faculdade Metodista de Santa Maria apontou que 71% dos jovens entrevistados desejam migrar do meio rural do município de Jari, RS (BROLLO, 2017). Há uma questão para a gestão pública e seus agentes de desenvolvimento para um trabalho com as comunidades rurais. Há um grande campo de oportunidades nos agro(negócios) para profissionais competentes. Nem tudo no Agro é pop, mas há um lado pop para explorar no campo dos agro(negócios) no Brasil. Portanto, é consenso entre os expertises que o campo dos agro(negócios) carece de uma grande profissionalização da gestão. É uma área que precisa de profissionais no presente e no futuro. Uma área de plantio e colheitas fartas.
Referências
BROLLO, E. E. Entre o campo e a cidade: um estudo sobre a juventude rural de Jari – RS. (Trabalho de Conclusão). Curso de Administração, Faculdade Metodista de Santa Maria, Santa Maria, 2017.
CEPEA. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. PIB do agronegócio Brasil. São Paulo: CEPEA/ESALQ, mai. 2017. Disponível em: <https://www.cepea.esalq.usp.br/upload/kceditor/files/Relatorio%20PIBAGRO%20Brasil_MAIO.pdf>. Acesso em 18 set. 2017.
FAO. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA. Diretor-geral da FAO está entre os latino-americanos mais influentes do mundo. Disponível em: http://www.fao.org/brasil/noticias/detail-events/pt/c/470240/. Acesso em: 18 set. 2017.
FEE. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Agricultura – culturas temporárias – arroz. Porto Alegre: FEE DADOS, 2015. Disponível em: <http://www.fee.rs.gov.br/feedados/>. Acesso em: 18 set. 2017.
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FEE. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Agricultura – culturas temporárias – feijão. Porto Alegre: FEE DADOS, 2015. Disponível em: <http://www.fee.rs.gov.br/feedados/>. Acesso em: 16 abr. 2017.
FEE. FUNDAÇÃO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Agricultura – culturas temporárias – fumo. Porto Alegre: FEE DADOS, 2015. Disponível em: <http://www.fee.rs.gov.br/feedados/>. Acesso em: 16 jun. 2017.
IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo agropecuário 2006. Rio de Janeiro, p.1-267, 2006. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/50/agro_2006_agricultura_familiar.pdf>. Acesso em 18 set. 2017.
OCB. ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO BRASIL. Dados sobre cooperativismo no Brasil. Disponível em: < http://www.ocb.org.br/>. Acesso em 18 set. 2017.
REDIN, E. Família rural e produção de tabaco: estratégias de reprodução social em Arroio do Tigre/RS. 305 f. (Tese de Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Extensão Rural, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria. 2015.
REVISTA MASTER. Agronegócio: um bom campo para a Administração. Porto Alegre: Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul, ed. 151, mai./jun. 2017.