Dia da Educação - 2023
28/04/2023 09h33
Este é um texto que apresenta um pouco da compreensão de quem o escreve e convida, por seu caráter crítico-sensível reflexivo, à autoria do leitor. Não se pode escrever com a pretensão de ter a palavra derradeira sobre o que é tematizado. Porque nem o texto, nem o seu autor podem ser definitivos. O que se escreve não é para ser cristalizado, precisa ser aberto para permitir que o leitor (e o próprio autor) tenham possibilidades de fazer e refazer, a cada leitura, novas autorias desenvolvendo o texto.
Essa compreensão se notabiliza ainda mais quando falamos em Educação. Por exemplo, há muito que não mais se aceita que ensinar seja sinônimo de educar ou que houve ensino independentemente de se constatar a aprendizagem. Assim, se entende hoje que a prática do ensino precisa realizar-se com a intenção de educar; do contrário, se adestraria. Há quem, infelizmente, não pratica o ensino como um meio pró Educação - porque acredita que o ato em si do ensino está, por si, só a educar.
A reflexão proposta neste texto quer mais do que o entendimento desses conceitos em sua evolução, antagonismos, diferenças e complementaridades. Encontramos autores que nos possibilitam desenvolver a compreensão de que Educação se realiza no contexto de um processo existencial maior: o da nossa humanização. Por isso, ela precisa ser refletida em uma perspectiva ontológica. Uma perspectiva que implica a pergunta por nossa humanidade: o que é ser humano? Porque a Educação só existe em razão da nossa incompletude como seres humanos, como a perspectiva existencialista da pedagogia de Paulo Freire nos lembra: somos-sendo; é sendo que vamos nos construindo e nos reconstruindo, uns com os outros e consigo mesmo.
A condição humana possui, além do dado biológico, questões ontológicas e espirituais. Alguma coisa, em nosso íntimo, nos diz que somos muito menos do que imaginamos ser e muito mais do que imaginamos não ser. É um mistério? Não. É uma dinâmica íntima existencial que precisa ser trabalhada em Educação. Daí a pergunta: por que nos educamos? O modo como construímos as respostas (e estas mesmas, ainda que provisórias) influi significativamente na orientação da nossa vida, não para este ou para aquele lugar, mas para as múltiplas possibilidades de construir e reconstruir caminhos e modos de percorrê-los.
Assim compreendendo, é possível ver em Educação que tudo o que se aprende (e também o que não se aprende) vai nos constituindo como seres humanos. Essa constituição de nós-mesmos, percebe-se, às vezes é proposta como um amálgama, uma síntese ou como uma figura caleidoscópica de justaposições. Também é, por vezes, imaginada como o trabalho de realizar um encaixe perfeito de peças de um quebra-cabeças, do qual já se conhece o modelo a ser montado porque se tem, a priori, a imagem. Mas Educação, numa perspectiva ontológica de sermos-mais como seres humanos não é isso. Essa perspectiva é mais exigente: implica praticar condições para que se torne real a condição existencial de um ser capaz de interagir com o mundo (e, nessa interação, educar e educar-se), construindo e reconstruindo sentidos. Sentidos, assim mesmo, no plural: porque são construções humanas sempre perfectíveis.
O Dia da Educação pode nos proporcionar, mais do que pensá-la, refletir. Não sobre ela objetificando-a como algo externo a nós, mas nela e com ela - porque é constituinte inalienável na construção cotidiana da nossa humanidade. Fazer isso é compreender que a Educação não se resume ao gesto prático de ensinar. Ela tem implicações ontológicas que nos levam a perguntar pelo sentido de tudo aquilo que nós - que também somos seres humanos inconclusos - fazemos com a nossa condição de professor. Que neste Dia da Educação possamos refletir no fato de todo dia ser Dia de Educação.
Porto Alegre, RS, outono de 2023.
Prof. Dr. Edgar Zanini Timm,
Centro Universitário Metodista - IPA