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Confira o depoimento do ex-aluno angolano Edgar Bengui, que voltou ao seu pais de origem após passar pelo IPA

por Renan Sales última modificação 18/02/2019 11h48

18/02/2019 11h48

Confira o depoimento do ex-aluno angolano Edgar Bengui, que voltou ao seu pais de origem após passar pelo IPA

Um angolano que por anos fugiu da guerra civil, passou pelo IPA e voltou ao seu país para exercer a sua profissão ocupando cargos de liderança. Esse é Edgar Bengui, um exemplo de superação e perseverança.Confira a história de Eddie, como é conhecido pelos mais próximos

 

HISTÓRIA DO BOLSEIRO DA ANGOLA

 

Edgar Bengui, ou simplesmente Eddie, como sou conhecido pelos mais próximos. Sou o terceiro de sete irmãos. Nasci numa pequena cidade da Angola, denominada Uíge em 1987.Aos cinco anos de idade deixei minha casa por causa da guerra civil que se vivia na época. Somente aos doze anos consegui voltar. Mesmo em meio a uma rotina tumultuada,aos sete anos aprendi a ler e escrever em casa com a ajuda do meu pai, Mateus Bengui, e minha tia, Luzia Fernando. Com estas todas situações, acredito que passei a desenvolver a minha personalidade focando na vontade de estudar para ajudar as pessoas.

Em 2001 a minha mãe faleceu. Foi algo muito profundo para alguém que estava entrando na adolescência. Em 2002 meu pai conseguiu inscrever-me em uma escola de ensino médio técnico denominada Instituto Nacional de Petróleos, onde estudei Mecânica Industrial. Nesta época passei a viver no internato. Lá aprendi a partilhar, a gerir o sofrimento e a respeitar as diferenças.

Em 2006,após terminar o curso de Mecânica Industrial,ocorreu um dos melhores acontecimentos da minha vida: a oportunidade de estudar em outro país. Um país chamado Brasil,irmão da Angola em vários aspectos. Em Fevereiro do mesmo ano embarquei para cidade de Porto Alegre no estado brasileiro do Rio grande do Sul com outros colegas Angolanos, beneficiando pelo convênio entre a Igreja Anglicana de Angola e o Centro Universitário Metodista-IPA. Matriculei-me no curso de Engenharia de Produção, onde estudei durante quatro anos. Neste período fiz grandes amigos, tive excelentes professores e excelentes gestores. Ainda assim, nem tudo foi tão fácil. Infelizmente nalgumas vezes passei por situações de xenofobia, racismo e exclusão social, pois, para alguns Brasileiros, negros significam delinquência, violência e inferioridade mental. Isso marcou-me mas tenho muito mais recordações positivas dessa experiência.

Em 2010 voltei para Angola com o sonho de ajudar o meu País, mas infelizmente encontrei uma tremenda barreira. Eu não fazia parte da elite econômica e política, o que na Angola faz uma enorme diferença na hora de conseguir emprego. Nesta época entrei em depressão ao ponto de querer me suicidar diversas vezes. Felizmente Deus não abandonou-me, lutei e mantive a esperança pois Deus é o mestre do destino de todos nós.

Aos poucos fui conquistando o meu espaço e hoje estou coordenando o curso de Engenharia de Produção numa das Instituições mais importantes da Angola: o Instituto Superior Politécnico de Tecnologias e Ciências – ISPTEC. Fui consultor técnico na construção dos laboratórios no projeto da escola superior de logística e transportes tutelada pelo Ministério dos Transportes.

Sou jovem e acredito que este é apenas o inicio de uma grande caminhada para lutar, através do meus conhecimentos,pela melhoria da qualidade devida das  pessoas do meu país de origem.

Agradeço no fundo do meu coração a Deus, à igreja Anglicana e, por último e não menos importante mas por ser um lugar especial,aoCentro Universitário Metodista-IPA. Tudo que esta instituição fez por todos nós não haverá dinheiro que pague ou ações que reverteram naquilo o que foi realizado. Agradeço o grande trabalho dos professores e das professoras pois, sim, são os motivos das mudanças positivas que ocorrem no mundo. Devemos todos proteger e apoiar estes profissionais que passam mais tempo formando desconhecidos do que com as suas próprias famílias.Tudo isso em prol da multiplicação de conhecimentos e da capacitação profissional.

Muito Obrigado IPA, Muito Obrigado “Professores e Professoras”.

Um grande abraço vinda diretamente da África para todos Brasileiros do Rio Grande do Sul.

“Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos” – AlbertEinstein

 

Edgar Bengui
Janeiro/19

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