Dia de ter consciência é todo dia!
18/11/2020 16h56 - última modificação 18/11/2020 19h00
No dia 20 de novembro, é celebrado em todo o Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. Esta data faz menção à luta do movimento social de maioria negra que, por meio da escravidão, chegou às terras brasileiras originárias do continente africano e permaneceu escrava por quase 350 anos. Nosso país foi o último do continente americano a abolir a escravatura e, quando o fez, não preparou os negros e negras, bem como o estado, para este processo de cidadania e acesso digno às políticas públicas (saúde, educação, cultura e lazer), tornando desigual o seu lugar na sociedade.
Para tanto, os movimentos sociais foram extremamente importantes nas alterações de leis e políticas de ações afirmativas que trouxeram à tona a discussão acerca da desigualdade e a necessidade desta correção. A cota em universidades públicas, por exemplo, nasce de um processo compensatório pelos erros de anos que a etnia sofreu e ainda sofre, apoiada muitas vezes pelo governo público do Brasil. Não é coitadíssimo ou muito menos por falta de competência da população negra, mas uma conquista com um som de pedido de perdão pelos anos de trabalho escravo. Claro que nenhuma cota ou qualquer ação poderá superar as marcas que ficaram nestas pessoas e suas famílias, mas é necessário seguir em frente e mudar a cultura discriminatória social e racial em nosso meio. Que esse seja apenas o começo.
Quando o apóstolo Paulo escreve à igreja em Gálatas, ele ressalta que na família de Deus não pode haver diferença, pois somos todos filhos e filhas de um mesmo Pai. Temos, portanto, os mesmos direitos e deveres. Entretanto, se faz necessária sua fala, pois havia na comunidade de fé um tratamento diferenciado aos judeus em relação aos não judeus, aos homens em detrimento das mulheres e isso, de alguma forma, gerava inquietação e divisão no meio da comunidade.
Seu direcionamento firme e atualizado para aquela comunidade lança por terra todas as diferenças de nacionalidade, sexo e de status. A inclusão no corpo de Cristo não se dá por conquista, casta, gênero, etnia, posição social e familiar, mas exclusivamente pela graça de Deus.
Eu nunca sentirei como os gregos se sentiam em meio ao preconceito judaico da época, mas, com certeza, não era fácil. Ainda que convivamos diariamente com o preconceito em relação ao gênero feminino, não tenho condição de mensurar como era isso há 60 anos. Da mesma forma que não tenho como definir as dificuldades enfrentadas por deficientes físicos e tampouco poderei imaginar o sentimento envolvido diante do racismo expresso a negros e negras ainda hoje. Posso dizer que somos todos/as filhos e filhas de um mesmo Pai e estamos na mesma família, a família humana, a família da fé. Devo me unir com as vozes que clamam por igualdade na humanidade. A mesma que Jesus anunciou e que Paulo destaca neste texto.
Devemos sonhar como sonhou o reverendo Martin Luther King: “Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades de hoje e de amanhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho profundamente enraizado no sonho norte americano. Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: Achamos que estas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais. Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter. Quando deixarmos soar a liberdade, quando a deixarmos soar em cada povoação e em cada lugarejo, em cada estado e em cada cidade, poderemos acelerar o advento daquele dia em que todos os filhos de Deus, homens negros e homens brancos, judeus e cristãos, protestantes e católicos, poderão dar-se as mãos e cantar com as palavras do antigo espiritual negro: ‘Livres, enfim. Livres, enfim. Agradecemos a Deus, todo poderoso, somos livres, enfim’”.
E abarcados neste sonho, sigamos nesta mesma luta, a fim de que todas as pessoas possam reconhecer que não há diferença entre nós. Sejamos agentes de transformação e reconhecimento do valor do/a outro/a neste mesmo espaço que chamamos de sociedade.
Revda. Fabiana de Oliveira
Agente da Pastoral
Instituto Metodista de Ensino Superior